21 March 2014

P, de Primavera e Poesia


Hoje sonhei que não era sonho.
Vi que as flores cresceram sem sol,
As árvores longas e fortes,
Mais fortes que o betão derramado,
Mais verdes, mais elas.

Hoje sonhei que nunca acordara.
Vi que o Mundo era só sonho,
Só meu,
Só nosso.
Os lençóis eram brancos,
E passava uma leve brisa nos meus cabelos,
Delicadamente os levantava,
Só para me veres Mulher.
Mais Eu,
Mais forte que as lembranças.
Menos sujo o caminho,
Menos massacrado o tormento.

Hoje sonhei que não havia mendigos.
Vi que os Homens se vestiam lavados,
Os dentes brancos, o sorriso mais branco ainda.
Cada um entrava na sua casa,
Pintada de fresco com a cor do céu.
E o pão que levavam à boca não era duro,
Não era seco.

Hoje sonhei que jogava à bola na rua.
Que caía no chão e me magoava nos joelhos.
Na fonte do jardim passava água fresca e a ferida estancava.
O sangue parava de jorrar,
E a dor que existia,
Era vontade de rir de ter tropeçado.

Hoje sonhei que os pássaros voavam para o rumo certo.
Destino sem desvios de poluído caminho.
Sem penas a caírem na viagem, nem corpos.
E a música que ouvia vinha dos céus,
Do seu cantar.

Hoje sonhei que corria tanto,
Tanto,
Que o cansaço não me conseguia apanhar.

Para sempre.

Sara da Costa Oliveira 

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