6 April 2013

Espelho

Orelha Negra vem fazendo as minhas delícias musicais portuguesas há já algum tempo. Nesta música, Espelho, o pai de um deles [Sam the Kid], Viriato Ventura, declama um poema [de sua autoria]. Incómodo... 
Eu acho esta declamação soberba, para além da voz de homem perfeita, os tempos e as pausas, a entoação,... maravilhoso!

A noite em que eu nasci, senhor
Juro que a lua se fez vermelha de fogo
A minha pobre mãe gritou,
"Senhor, a cigana tinha razão!"
Eu vi-a cair morta logo ali.

As grandes aves da planície lá me encontraram esperando,
As grandes aves da planície lá me encontraram esperando 
E quando me encontraram,
Sentaram-me no dorso de uma delas 
que me levou para lá do infinito 
E quando me trouxe de volta,
Deu-me um anel de feitiçaria de Vénus e disse:
"Voa. Voa. Porque sou uma criança e tu bem sabes que eu sou uma criança."

As minhas flechas são feitas de desejos vindos de tão longe 
como as minas sulfúricas de Júpiter.
Sim, eu faço amor contigo,
E tu bem sabes, não sentiste dor
Sim, eu faço amor contigo enquanto dormes,
E tu bem sabes, não sentiste dor
Porque estou a um milhão de milhas de distância
E ao mesmo tempo,
Estou ali dentro da moldura com o teu retrato

Porque sou uma criança,
E tu bem sabes que eu sou uma criança.

Eu tenho um pássaro-mosca que zumbe tanto 
que pensavas enlouquecer.
Sim, eu flutuo em jardins líquidos,
E lá nas novas areias vermelhas do Alentejo
Provo o mel de uma flor chamada, melancolia
E as gentes afundam-se enquanto damos as mãos
Porque sou uma criança,
E tu bem sabes que eu sou uma criança.

Viriato Ventura

Espelho - Orelha Negra 


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