4 April 2015

O Nome das Coisas

Há momentos em que temos, mesmo, de ouvir o nosso corpo e a nossa alma, e respeitarmo-nos incondicionalmente. Esquecer os outros e olhar para nós - sou, hoje, contra tudo e todos, uma séria respeitadora desta filosofia na minha vida. 
Em termos práticos, e na minha vida, isto resulta em fazer nada mais do que aquilo que me apetece e preciso. Ser perfeitamente feliz assumindo que estou melhor sozinha do que com planos cheios de horas mundanas só para matar tempo e que há pessoas e coisas que tão somente (já) não me interessam. Foi um longo processo de conhecimento até perceber o que funciona para mim e o que não, e outro processo, não tão longo, de assumir o meu verdadeiro Eu, tantos anos submisso a vontades alheias que eu dei como minhas...

Sou muito boa em cortar elementos da minha vida e mudar planos para meu bel prazer. Este fim-de-semana, 4 dias, foi um deles... Desejei não fazer nada. Tive planos para os 4 dias, para jantar, para café, para isto e para aquilo e nenhum me fez querer mudar a vontade de fazer nada. Sou a minha melhor companhia, que posso fazer? Noutros tempos iria querer fazer tudo e adoraria ver que tinha realmente "imenso" com que me entreter; hoje, porém, renuncio a tudo para ter até a hora do almoço livre para ver um documentário que quero há tempo demais - O Nome das Coisas sobre Sophia de Mello Breyner Andresen - e acabar desfeita em lágrimas.
É para isto que eu vivo, para mim.
Os efeitos secundários da Poesia são tramados, mas a verdade é que, e evocando Edgar Allan Poe, "se um poema nunca te desfez a alma, nunca experimentaste a poesia."

Excerto do documentário relativo à visita de Manuel Alegre a Sophia de Mello Breyner Andresen no hospital:

"A última vez que eu estive com Sophia foi muito pouco antes de ela morrer. Ela não estava deitada, estava sentada, com uma almofada, vestida de branco, estava bonita, estava estranhamente bonita.
Ela ficou a olhar muito séria para mim, eu percebi que ela não me estava a reconhecer e falei-lhe e ela imediatamente disse "Manuel Alegre" e depois disse o nome da minha mulher. E então eles pediram-me para eu dizer uns versos e eu (...) disse-lhe "ia e vinha e a cada coisa que perguntava" e ela disse "que nome tinha?". (...) e depois pediu Camões, e eu "erros meus, má fortuna" e ela foi-me acompanhando mesmo quando as palavras já não lhe saiam muito bem e a partir de certa altura ela dizia só a música do poema, era poesia em estado puro, absolutamente puro e depois aquilo parou porque eu já não fui capaz de continuar... Mas é a última imagem dela, é o ritmo, essa energia, poesia como forma de energia ou de música. Mesmo quando faltavam as palavras ficou a música, ficou essa actuada."


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